A vírgula e o etc.

8 Aug 2023 | Norma culta

Observe as duas frases abaixo:

Laranjas, maçãs, abacaxis, etc.

Laranjas, maçãs, abacaxis etc.

Qual das duas estaria correta? Em outras palavras, usa-se vírgula antes de “etc.”? Para você que está com pressa, a resposta é “fica a critério do freguês”, pois ambas as formas são aceitas hoje. Mas para você que está curioso e deseja saber mais, puxe uma cadeira, beba um café e boa leitura!

O que é “etc.”?

O pontinho depois do “c” já sugere que o “etc.” seja uma abreviação. Ela vem da frase em latim “et cētera”, que literalmente significa algo como “e essas outras”, “e outras como essas”, “e outras assim”, “e outras desse tipo” etc. (perdoem-me o trocadilho).

Vamos por partes: a primeira palavra, “et”, é a conjunção de adição latina “e” (por exemplo: “mala et uvae”, maçãs e uvas). É fácil ver como “et” se transformou em “e” no português: o som final /t/ caiu, e apenas o som da vogal “e” permaneceu:

et ➡️ e(t) ➡️ e.

Em francês, por outro lado, escreve-se “et” até hoje. Veja:

LATIM
Francês
Italiano
Português
Espanhol
et
et
e
e
y

Lembremo-nos, contudo, de que em francês se escreve “et”, mas geralmente pronuncia-se /ê/, sem o “t” final (a não ser que haja liaison com a próxima palavra). Portanto, essa perda do som /t/ final é uma modificação comum a todas as línguas neolatinas.

Já “cetera” é o plural, em latim, da palavra neutra “ceterum”.

Como assim, “palavra neutra”? É que, ao contrário do português, que só tem dois gêneros (masculino e feminino), o latim tinha três gêneros: masculino, feminino e neutro. “Ceterum” é uma dessas palavrinhas de gênero neutro, no singular; já “cetera” (também do gênero neutro) está no plural.

O conceito é um pouco difícil de entender, mas podemos pensar assim:

1. A palavra “esse” está no masculino (o livro: esse livro);

2. A palavra “essa” está no feminino (a casa: essa casa);

3. Já a palavra “isso” é um resquício do gênero neutro em latim.

Como “isso” termina em “-o”, tendemos a pensar nela como palavra masculina, mas basta refletirmos um pouco para ver que, se fosse realmente uma palavra masculina, ela teria o feminino normal em “issa”. Que não existe: ele só acontece na forma “isso”, sem outros gêneros. Ele sequer tem plural: “isso” só ocorre no singular. É uma palavra originalmente neutra, utilizada para coisas, ações, eventos, nunca pessoas.

Em latim, “ceterum” é um adjetivo nesse tal gênero neutro. E assim como é possível mudar os gêneros de adjetivos em português (bonito – bonita; feio – feia), também é possível mudar o gênero de “ceterum” para masculino (ceterus) e feminino (cetera). Ficaria mais ou menos assim:

SINGULAR
PLURAL
GÊNERO
MASCULINO
ceterus
ceteri
GÊNERO
FEMININO
cetera
ceterae
GÊNERO
NEUTRO
ceterum
cetera

Nesse caso específico, vemos que “cetera” aparece duas vezes: é tanto a forma do feminino singular quanto a forma do neutro plural. Na expressão “et cetera”, a palavra refere-se especificamente ao neutro plural.

E o que significa “cetera” exatamente? A palavra vem de uma junção da raiz indo-europeia “ko-” (radical dos pronomes demonstrativos “esse, essa, isso”) com a terminação “*-(e)teros”, que veio para o latim como “eteros” e para o grego como “ἕταιρος” (hétairos) — lembrando que, como já dissemos no artigo sobre o indo-europeu, latim e grego são línguas irmãs.

Mas e a palavra “(h)éteros”? Será que você a reconhece de algum lugar? Temos muitas palavras provenientes do grego com essa raiz, que significa essencialmente “outro”. Abaixo estão algumas delas:


Hétaira grega.

  • Heterogêneo: de outro (hétero) gênero; um conjunto com partes diferentes ou desiguais;

  • Heterossexual: a pessoa atraída pelo outro (hétero) sexo;

  • Heterônimo: pessoa com outro (hétero) nome (que, em grego antigo, era “ὄνυμα” [ônyma], palavra também do gênero neutro);

  • Hétaira: na Grécia Antiga, a hétaira (a outra pessoa, no sentido de a companheira) era mais ou menos o equivalente grego da gueixa japonesa. A hétaira era um tipo de cortesã que, além de serviços de cunho sexual, tinha conhecimento das artes e conhecia técnicas de entretenimento e de conversação. Ao contrário das mulheres “de família” gregas, as hétairas sabiam ler e escrever, eram cultas e até participavam dos simpósios. Em português, traduzimos a famosa obra de Platão como “O Banquete”, mas o termo original em grego é “Συμπόσιον”, literalmente “simpósio”, que correspondia a um período específico do banquete: basicamente, o momento após a refeição principal. Era durante o simpósio (e não durante a refeição) que os gregos conversavam e filosofavam. Algumas hétairas gregas tornaram-se muito famosas, como Frine e Thaís.

Se você é da área de saúde, com certeza já tem familiaridade com várias outras palavras com essa raiz, como heterocromia, heterotropia, heteromórfico, heterozigoto, heteroplasia, dentre outras.

Charles Xavier (James McAvoy) ensina a Amy (Annabelle Wallis) o conceito de heterocromia.
Cena de  (2011).

Em latim, a junção de “ko” + “(h)éteros” resultou em “koéteros” — que terminou por ser escrita “coéteros”, com “c”. Mais tarde, o primeiro “o” (de “oe”) caiu e a palavra terminou virando apenas “kéterus”, ou “céterus”. É que, muito embora hoje pronunciemos o “c” como /s/ (de “salada”), na antiguidade prisca, o “c” do latim era pronunciado como “k”. E “céterus” (pronunciado “kéterus”) significa, literalmente, “esse outro” (no masculino). Se utilizarmos a tabela anterior como parâmetro, as traduções seriam:

SINGULAR
PLURAL
GÊNERO
MASCULINO
ceterus
esse outro
ceteri
esses outros
GÊNERO
FEMININO
cetera
essa outra
ceterae
essas outras
GÊNERO
NEUTRO
ceterum
"isso" outro
(essa outra coisa)
cetera
"issos" outros

(essas outras coisas)

Transformar o neutro plural latino em um correspondente na língua portuguesa é um pouco árduo, pois perdemos o gênero neutro em nosso idioma. Consequentemente, o resultado costuma ficar um pouco “capenga” em português. Mas o sentido é esse, de “issos outros”, que corresponderia aproximadamente à expressão “essas outras [coisas]”. Adicionamos “coisas” porque se deixarmos apenas “essas outras”, não haveria diferença para o feminino.

Vejamos alguns exemplos reais de como a expressão “et cetera” era utilizada:

Sed profiteor me quaerere et cetera.

Mas admito que estou buscando outras coisas desse tipo também.

— Apuleio, Apologia, 33.4.

Contumelias et verba probrosa et ignominias et cetera dehonestamenta velut clamorem hostium ferat et longinqua tela et saxa sine vulnere circa galeas crepitantia.

Deixa que as contumélias, obscenidades, ignomínias e outras palavras degradantes como essas/desse tipo sejam como os selvagens clamores (urros de guerra) das hostes inimigas; como as lanças e pedras que, arremessadas de longe, crepitam contra o capacete dos soldados sem, contudo, lesioná-los.

— Sêneca, De Constantia Sapientia (Da Constância do Homem Sábio), 19.3

Oscula qui sumpsit, si non et cetera sumet,

Haec quoque, quae data sunt, perdere dignus erit.

Aquele que recebeu ósculos (beijos), se não receber também as outras coisas/o restante,

Será digno de (merecerá) perder também o que lhe já foi dado.

— Ovídio, Ars Amatoria (A Arte do Amor), I.669-670.

Illud quidem, ut dixi, firmum et ratum habeto, nihil extra causam de moribus et cetera eius vita me dicturum.

Isto, de fato, como disse, tenho como firme e justo, e nada direi além do próprio caso a respeito de seu caráter e das outras coisas (do restante) de sua vida.

— M. Cornelius Fronto (Frontão), Correspondências, Ad M. Caes. III. 3 (Naber, p. 41).

Codicillos oleagineos et cetera ligna amurca cruda perspargito et in sole ponito, perbibant bene.

Perspargir (molhar, aspergir em volta) os troncos de oliveira e outras lenhas, com amurca crua, e expor ao sol, para que absorvam bem.

— Catão, Da Agricultura, CXXX.

In partitione quasi membra sunt, ut corporis, caput, umeri, manus, latera, crura, pedes et cetera.

Se particionarmos, parecem membros, como o corpo, a cabeça, os ombros, as mãos, as laterais [do corpo], as pernas, os pés e outras partes como essas (ou seja: etc.).

— Cícero, Topica (Tópicos), VI.30.

Podemos observar que, historicamente, a conjunção aditiva “e” não pede vírgula, por tratar-se de uma enumeração de termos. Ou seja, se tomarmos a frase por extenso “laranjas, maçãs e outras frutas”, não há vírgula antes do “e”. Se substituirmos “e outras frutas” por “etc.” (et cetera), temos a mesma situação, sem necessidade de vírgula:

Laranjas, maçãs e outras frutas.

Laranjas, maçãs et cetera.

Laranjas, maçãs etc.

Assim, dado o sentido histórico de “etc.”, não surpreende o posicionamento de gramáticos fortemente latinistas, como Napoleão Mendes de Almeida:

Assim como antes da conjunção “e” só em raros casos se emprega vírgula, da mesma maneira só raras vezes se emprega vírgula antes do etc., pois essa locução encerra a conjunção “e”, razão esta que condena, ainda, o emprego dessa conjunção antes do etc., sendo errado dizer “…peras, maçãs e etc.”

— Dicionário de Questões Vernáculas, verbete “etc.”

Questão encerrada? Bem… nem tanto.

A língua não para…

Com o passar do tempo, o sentido de “etc.” dissociou-se da conjunção “e” especificamente. E, assim como dizemos “maçãs, laranjas, dentre outras” (em que a vírgula corretamente aparece antes de “dentre outras”), passou-se a interpretar “etc.” da mesma forma, como se fosse um elemento qualquer posterior (e não uma abreviação com a conjunção “e”): 

Carros, motos, dentre outros

Carros, motos, entre outras coisas

Carros, motos, etc.

 

Essa interpretação ganhou força, e, hoje, vários gramáticos usam vírgula antes de “etc.”, como Bechara, Rocha Lima e Celso Cunha:

(…) por exemplo, Pala, Vala, Mala, Tala, Rala, etc.

— Moderna Gramática Portuguesa (Evanildo Bechara; 2009)

Conforme a época, o lugar, a moda, etc.;

— Novo Dicionário de Dúvidas da Língua Portuguesa (Evanildo Bechara; 2018)

(…) em vastíssima atividade do magistério da pena (livros didáticos, teses de concurso, ensaios doutrinários, etc.)

— Gramática Normativa da Língua Portuguesa (Rocha Lima; 2011)

Nos verbos terminados em -guar, -quar, e -quir (aguar, apaziguar, enxaguar, obliquar, delinquir, etc.)

— Nova gramática do português contemporâneo (Celso Cunha, Lindley Cintra; 2017)

 

Cegalla, por exemplo, não se pronuncia explicitamente sobre a possibilidade de vírgula antes do “etc.”. Porém, no texto corrido de sua Gramática, há exemplos vários que demonstram seu posicionamento neste assunto: 

Daí a existência de falares regionais e de vários níveis de fala: culta, popular, coloquial, etc.

— Novíssima Gramática da Língua Portuguesa (Domingos Paschoal Cegalla)

(…) à altura de. Apto para (missão, tarefa, cargo, etc.)

— Dicionário de Dificuldades da Língua Portuguesa (Cegalla; 2017)

 

Com base nesses exemplos, seria difícil sentenciar ser terminantemente errado usar vírgula antes de “etc.”, pois alguns estudiosos de renome utilizam esse formato.

A vírgula em inglês 

Antes de concluirmos este artigo, é importante falar brevemente sobre o inglês, pois somos avassalados por conteúdos nesse idioma. Por conseguinte, encontramos muitas traduções que carecem de esmero — de fato, frequentemente são produto de traduções automáticas e/ou de inteligências artificiais. 

Neste sentido, é comum verter, ao português, a vírgula existente em textos ingleses antes de “etc.”. Pois o incauto (incluindo-se aí o robô da tradução automática) acha que o sistema de pontuação do inglês é idêntico ao do português:

Google Tradutor automaticamente transfere a vírgula do inglês para o português.

Como podemos ver na imagem acima, o Google Tradutor não vê qualquer problema em reutilizar a pontuação inglesa. Entretanto, há aqui uma enorme pegadinha. Para entendermos a magnitude do problema, é necessário fazer o trajeto inverso. Vamos traduzir, agora do português para o inglês, a frase abaixo:

Frutas, verduras e carne.

Como você acha que deveríamos traduzi-la ao inglês? Pense um pouco.

Pensou? Aqui está a resposta:

Fruits, vegetables, and meat.

Notou algo de estranho? Para facilitar a visualização, vamos colocar as duas frases uma abaixo da outra:

Frutas, verduras e carne.

Fruits, vegetables, and meat.

É isso mesmo que você está vendo: uma vírgula antes de “and”. Em inglês, a regra geral é utilizar a vírgula antes da conjunção aditiva “and” (nosso “e”). É uma longa estória, mas, de forma resumida, em inglês, mostra-se a divisão dos itens por meio da vírgula — a chamada “serial comma” (vírgula enumerativa), tradicionalmente chamada de “Oxford comma” (e, mais recentemente, de “Harvard comma”). Ou seja, quando temos uma enumeração de itens, A, B e C, utiliza-se, no inglês, a vírgula para separá-los, todos, mesmo antes do “e”. Isso é feito para indicar que se tratam verdadeiramente de itens distintos. Observe:

[Fruits], [vegetables], and [meat]

[Frutas], [verduras] e [carne]

A presença da vírgula gera a contagem de três itens: 1) frutas, 2) verduras e 3) carne.

Já a ausência da vírgula, em inglês, faria com que tivéssemos dois itens (e não três):

[Fruits], [vegetables and meat]

[Frutas] e [verduras (com) carne]

É como se o item “verduras e carne” fosse uma coisa só (e não itens separados). Algo como “verduras misturadas com carne”.

Podemos visualizar melhor a diferença nestas duas frases:

1. We went on a stroll with our dogs, grandma, and grandpa. (Com vírgula)

Literalmente: Saímos para passear com nossos cachorros, vovó, e vovô.

2. We went on a stroll with our dogs, grandma and grandpa. (Sem vírgula)

Literalmente: Saímos para passear com nossos cachorros, vovó e vovô.

Na frase 1, com a presença da vírgula, temos três itens: a) os cachorros, b) vovó e c) vovô. Trocando em miúdos, a frase significa que passeamos com três figuras distintas: 1) os cachorros; 2) vovó; e 3) vovô. É como se disséssemos:

Saímos para passear com nossos cachorros, com nossa vovó e com nosso vovô.

Já na frase 2, sem a vírgula, temos dois itens: a) os cachorros; e b) “vovó + vovô” (um único elemento combinado). Para o falante nativo de inglês, o item combinado “vovó e vovô” explica a palavra anterior, “cachorros”. Ou seja, seria o equivalente em português a:

Saímos para passear com nossos cachorros: vovó e vovô.

Quer dizer, “vovó e vovô” são os nomes dos cachorros. Ou o que é pior: o falante considera seus avós como cachorros.

Para o falante inglês, portanto, a vírgula enumerativa (aquela inserida em enumerações antes da conjunção aditiva “e”) separa todos os termos individualmente.

Entendeu a lógica utilizada na língua inglesa? Tente apontar a diferença entre as duas frases abaixo:

1. I traveled with Paul, a cook, and a painter. (Com vírgula)

Literalmente: Viajei com Paulo, um cozinheiro, e um pintor.

2. I traveled with Paul, a cook and a painter. (Sem vírgula)

Literalmente: Viajei com Paulo, um cozinheiro e um pintor.

Na frase 1, com a presença da vírgula, temos três itens: a) Paulo, b) cozinheiro e c) pintor. Trocando em miúdos, a frase significa que viajei com três pessoas: 1) Paulo; 2) um cozinheiro; e 3) um pintor.

Já na frase 2, sem a vírgula, temos dois itens: a) Paulo; e b) “cozinheiro + pintor” (um único elemento combinado). Para o falante nativo de inglês, essa frase significa que viajei apenas com “Paulo”, que tinha duas profissões concomitantes (ele era ao mesmo tempo “cozinheiro e pintor”).

Em português, essa diferenciação não se faz pela vírgula, mas pela própria construção da frase:

1. Viajei com Paulo, um cozinheiro e um pintor. (Três pessoas)

2. Viajei com Paulo, cozinheiro e pintor. (Uma pessoa)

O “um” muda o sentido da frase, sem necessidade de inserir a vírgula. É um dos muitos exemplos que comprovam que traduzir não se resume meramente a “trocar uma palavra (da língua 1) por outra palavra (da língua 2)”, mas exige a profunda compreensão acerca da própria formação de ambos os idiomas, em seus elementos mais basilares; e — importantíssimo — as próprias culturas que as utilizam. Ou seja, trata-se de verter o significado por detrás das palavras (na primeira língua) a uma construção frasal (na segunda língua) que seja compatível com o significado (e não meramente a palavra) da primeira. Nesse sentido, a tradução é menos “palavra por palavra” e mais “significado por significado”. E aqui incluem-se também as regras de pontuação, que podem ser diferentes de um idioma para outro.

Portanto, basear-se no inglês para definir a utilização da vírgula em português é uma armadilha. O recurso de comparação entre línguas diferentes pode ser utilizado, mas é importante lembrar-se de que línguas diferentes podem apresentar regras diferentes. Por isso, é preciso conhecer profundamente as duas para tecer comparações válidas e honestas.


Códex da antiguidade.

Conclusão

Usa-se vírgula antes de “etc.”? Preferimos a versão sem vírgula, por parecer-nos mais conforme ao sentido original dessa abreviação (“e outras coisas”). Afinal, nela temos a conjunção de adição “e”, que, ao contrário do inglês, não é antecedida de vírgula no português quando enumeramos uma lista de itens.

Porém, muitos gramáticos de prestígio usam vírgula antes de “etc.”, o que, em teoria, validaria a correção de seu uso por nós, falantes do idioma.

Em resumo, ambas as opções são aceitas hoje em dia. A escolha fica a gosto do freguês.

No entanto, quer seja ou não usada a vírgula, ambos os lados do debate concordam em alguns pontos:

1. Se houver uma repetição de “etc.” sequencialmente (“etc., etc., etc.”), a vírgula passa a ser obrigatória, pois temos uma enumeração sequencial como outra qualquer. Esta mesma regra vale para a conjunção “e”:

Ele corria, e caía, e rolava, e ria, e levantava-se de novo, apenas para cair outra vez.

Isso aí é tudo fruta: maçã, banana, laranja, morango, uva, etc., etc., etc.

2. Não se deve usar a conjunção “e” antes de “etc.”:

Preciso comprar leite, ovos, pão, queijo e etc. (Errado)

Preciso comprar leite, ovos, pão, queijo etc. (Correto)

Isso acontece porque a conjunção “e” já existe em “etc.” (et cetera: e outras coisas desse tipo). Senão, a frase teria duas letras “e”: “…queijo e e outras coisas”.

3. Não se usa “etc.” com pessoas:

Meus melhores amigos são Paulo, José, Maria etc. (Errado)

Isso se explica pelo sentido histórico da palavra “cetera”, que está no gênero neutro latino, correspondente ao plural do pronome “isso” (que não temos em português), usado para se referir a coisas, não a pessoas.

4. Quando “etc.” é a última palavra da frase, o ponto do “etc.” absorve o ponto da frase, para evitar a duplicação:

Ao viajar, não se esqueça de levar passaporte, roupas, passagem de avião etc.. (Errado)

Ao viajar, não se esqueça de levar passaporte, roupas, passagem de avião etc. (Correto)

5. Da mesma forma, não se usa reticências após “etc.”. É preciso escolher uma das duas opções:

A loja vende muitos artigos, como roupas, sapatos, acessórios, produtos de beleza etc. (Errado)

A loja vende muitos artigos, como roupas, sapatos, acessórios, produtos de beleza etc. (Correto)

A loja vende muitos artigos, como roupas, sapatos, acessórios, produtos de beleza… (Correto)

6. Em enumerações separadas por ponto e vírgula ( ; ), o “etc.” é precedido da pontuação, quando faz parte da enumeração geral:

A empresa representa várias marcas de sucesso, como Toyota, do Japão; Adidas, da Alemanha; Coca-Cola, dos Estados Unidos; etc.

Em suma, embora recomendemos não usar vírgula com “etc.” (afinal, os itens 2 e 3 acima mostram que o sentido histórico da abreviação permanece, mesmo para quem defende o uso da vírgula), a escolha é pessoal. Pode-se usar ou não a vírgula antes do “etc.” — mas, uma vez feita a escolha, ela deve ser mantida. Evite usar regras diferentes no mesmo texto (p. ex., vírgula antes de “etc.” em um parágrafo, e ausência da vírgula no outro), pois isso passa a ideia de desleixo e/ou que o autor desconhece a regra — além de confundir o leitor. Ao escolher seu estilo preferido, utilize-o uniformemente em todo o texto.

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